Revolução Iraniana

A Revolução Iraniana de 1979 foi um momento crucial na história moderna, marcando a queda da monarquia Pahlavi e o estabelecimento de uma República Islâmica sob a liderança do aiatolá Khomeini.


Aitolá Khomeini: líder da Revolução Iraniana de 1979
Aitolá Khomeini: líder da Revolução Iraniana de 1979



O que foi a Revolução Iraniana?


A Revolução Iraniana, também conhecida como Revolução Islâmica, ocorreu em 1979, quando a monarquia de longa data do Irã, liderada pelo xá Mohammad Reza Pahlavi, foi derrubada. Essa revolução foi única porque resultou não em um novo governo secular, como muitas outras revoluções, mas no estabelecimento de uma teocracia islâmica. O aiatolá Ruhollah Khomeini, um líder religioso, tornou-se a figura central desse novo governo, governando o Irã de acordo com os princípios e leis islâmicas (Sharia). A revolução significou a rejeição da influência ocidental e do secularismo, substituindo-os por um governo baseado em ideais islâmicos.



Quais foram as principais causas da Revolução Iraniana?


Vários fatores subjacentes levaram à Revolução Iraniana, alguns dos quais eram problemas antigos na sociedade iraniana. As principais causas incluíram:


Oposição ao regime autoritário do xá: o xá era visto como um ditador que havia centralizado o poder em suas mãos, reprimindo liberdades políticas.


Políticas de ocidentalização e secularização: o governo do xá promoveu uma rápida modernização, alinhando o Irã com os países ocidentais, o que muitos iranianos, especialmente conservadores e líderes religiosos, viam como um ataque aos valores islâmicos tradicionais.


Desigualdade econômica: apesar do crescimento econômico, os benefícios não eram distribuídos de forma equitativa, levando à pobreza generalizada e descontentamento, especialmente nas áreas rurais.


Corrupção e favoritismo: o regime do xá era notoriamente corrupto, com a riqueza concentrada entre a elite, enquanto a maioria da população enfrentava dificuldades.


Repressão à dissidência política: A polícia secreta do xá, SAVAK, reprimia brutalmente a oposição política, frequentemente usando tortura e prisão contra aqueles que se manifestavam.


Ascensão da oposição religiosa: o aiatolá Khomeini e outros clérigos ganharam popularidade ao criticar o regime do xá como anti-islâmico, posicionando-se como defensores do povo e das tradições islâmicas.


Intervenção estrangeira: o xá era visto como um fantoche das potências ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, que o apoiavam para manter o acesso ao petróleo iraniano e como parte da geopolítica da Guerra Fria.




Como aconteceu: as fases da revolução


A Revolução Iraniana ocorreu em várias fases importantes, transformando-se de protestos esporádicos em uma revolução em larga escala que derrubou a monarquia.


Primeiros protestos (1977-1978): em 1977, o descontentamento com o xá começou a crescer, particularmente entre intelectuais, estudantes e líderes religiosos. Manifestações e protestos começaram de forma pequena, exigindo reformas políticas e criticando a corrupção do governo.


O papel da liderança religiosa: o aiatolá Khomeini, exilado em 1964 por sua oposição ao xá, tornou-se o líder espiritual e simbólico da revolução. Suas mensagens, contrabandeadas para o Irã em fitas cassete e panfletos, inspiraram muitos iranianos a se levantarem contra o regime do xá.


Escalada dos protestos (1978): em 1978, os protestos se espalharam por todo o país, tornando-se violentos à medida que o governo reprimia os dissidentes. Manifestações em massa, greves e protestos aumentaram, especialmente após a morte de manifestantes em confrontos com a polícia.


Martírio e mobilização em massa: as forças de segurança do xá mataram muitos manifestantes, o que só aumentou a raiva pública. A ideia de martírio tornou-se uma força poderosa, já que cada funeral gerava novas manifestações.


Perda de apoio ao xá: no final de 1978, a posição do xá enfraqueceu. Ele perdeu o apoio do exército, que não estava disposto a continuar reprimindo os protestos crescentes, assim como dos Estados Unidos, que o aconselharam a buscar uma solução pacífica.


A partida do xá e o retorno de Khomeini: em janeiro de 1979, enfrentando intensa pressão, o xá fugiu do Irã, supostamente para tratamento médico. Em fevereiro, o aiatolá Khomeini retornou a Teerã do exílio e foi recebido como herói. Pouco depois, a monarquia colapsou.


Estabelecimento da República Islâmica: após um referendo nacional em abril de 1979, foi estabelecida a República Islâmica do Irã, com Khomeini como seu Líder Supremo. Uma nova constituição foi redigida, mesclando a lei islâmica com a governança.

 

Foto mostrando o aiatolá Khomeini retornando, saindo do avião, para o Irã

Retorno de Khomeini ao Irã

 



Quais foram os desdobramentos e consequências da Revolução Iraniana?


A Revolução Iraniana teve consequências de longo alcance para o Irã e o mundo. Algumas das principais consequências foram:


Estabelecimento de uma República Islâmica: a consequência mais imediata foi a criação de um governo teocrático no qual líderes religiosos, especialmente o Líder Supremo, detinham grande autoridade política. O governo do Irã passou a ser governado pela lei islâmica (Sharia).


Mudança na política externa: a revolução marcou uma ruptura com a influência ocidental, particularmente americana. O novo governo foi hostil aos Estados Unidos e seus aliados, especialmente após a crise dos reféns de 1979-1981, em que 52 americanos foram mantidos como reféns na embaixada dos EUA em Teerã.


Guerra Irã-Iraque (1980-1988): a instabilidade após a revolução contribuiu para o início de uma guerra com o Iraque, liderado por Saddam Hussein. A guerra, que durou oito anos, foi devastadora, custando centenas de milhares de vidas e debilitando a economia iraniana.


Impacto nos direitos das mulheres: os direitos das mulheres foram significativamente reduzidos sob o novo regime. O governo impôs códigos de vestimenta islâmicos rigorosos e limitou o papel das mulheres na vida pública, revertendo muitas das reformas progressistas introduzidas sob o xá.


Repressão à oposição política: após a revolução, o novo regime islâmico reprimiu brutalmente a dissidência política, executando e aprisionando muitos que se opunham ao novo governo. Vários grupos seculares, socialistas e nacionalistas que inicialmente apoiaram a revolução foram marginalizados.


Exportação da Revolução Islâmica: o governo iraniano buscou ativamente exportar seus ideais revolucionários para outros países de maioria muçulmana, apoiando movimentos islâmicos no Líbano, Iraque e outras partes do Oriente Médio, o que gerou tensões com outros países da região.


Impacto a longo prazo no Oriente Médio: a revolução também influenciou movimentos islâmicos em todo o mundo muçulmano, inspirando grupos que viam o Irã como um exemplo de como o governo islâmico poderia ser alcançado na era moderna. Isso levou a tensões sectárias crescentes, especialmente entre muçulmanos sunitas e xiitas na região.



Conclusão e legado

 

A Revolução Iraniana de 1979 marcou o fim do regime monárquico de Mohammad Reza Pahlavi e o início de um governo teocrático liderado pelo aiatolá Khomeini, transformando profundamente a política, a sociedade e a cultura do Irã. Ela simbolizou o triunfo do islamismo político sobre o secularismo, inspirando movimentos similares em outras partes do mundo islâmico.


O legado da revolução inclui a criação de um estado islâmico baseado na sharia, o rompimento de laços com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, e a polarização da política regional. Até hoje, as tensões internas e externas resultantes continuam a moldar o papel do Irã no cenário global.

 

 

Foto de uma manifestação popular em Teerã, durante a revolução Iraniana

Manifestação popular em Teerã (1979), durante a revolução Iraniana.

 

 


 


Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Artigo publicado em 19/09/2024




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