Índios do Brasil

Existem vários povos indígenas no Brasil. Conhecer a história desses povos é valorizar a cultura brasileira.


Índios atuais do Brasil: vários povos e nações com culturas diferentes
Índios atuais do Brasil: vários povos e nações com culturas diferentes

 

Os indígenas antes da chegada dos portugueses

 

Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guarani (região do litoral), macro-jê ou tapuia (região do Planalto Central), aruaque (Amazônia), charrua (extremo sul), pano (noroeste) e caraíba (Amazônia).

 

Fontes de informação histórica

 

Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.

 

Caça, pesca e agricultura

 

Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).

 

Domesticação de animais

 

Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.

 

Relações sociais

 

As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.

 

Arte e produção de objetos

 

Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.

 

É importante saber que grande parte das características indígenas, citadas acima, ainda fazem parte da cultura desses povos nos dias atuais.

 

Exemplos da arte tupiguarani

Exemplos da arte tupiguarani.



Organização social dos índios brasileiros

 

Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem os mesmos tratamentos. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.

 

Pajé e o Cacique

 

Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.

 

Educação Indígena

 

A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.



Os primeiros contatos entre indígenas e portugueses

 

Os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho. 

 

O contato que se seguiu foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequeno número de índios que temos hoje.


Visão europeia sobre os indígenas

 

A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considerada pelos europeus como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura europeia. Foi assim que, aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.

 

Indígenas brasileiros na época da exploração do Pau-brasil

Indígenas brasileiros na época da exploração do Pau-brasil (início do século XVI). A pintura mostra a visão europeia em relação aos indígenas brasileiros.




A prática do canibalismo dos índios no Brasil colonial


Algumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes. A prática do canibalismo era feira em rituais simbólicos.

 

Características da religião indígena

 

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, grande parte dos povos indígenas acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a morte.

 

Foto de um pajé indígena brasileira

Pajé: o líder religioso responsável pelos rituais e cerimônias religiosas (fonte da foto: website da ONU).

 

 

Os principais deuses indígenas brasileiros


 

Deuses da religião tupi-guarani

 

- Tupã: deus criador da terra, dos mares e do céu. É o criador dos animais, plantas e árvores. Para os tupis-guranis, foi Tupã que ensinou a agricultura para os índios.

 

- Guaraci: é o deus Sol, filho do grande Tupã. De acordo com a mitologia tupi-guarani, Guaraci ajudou Tupã na grande obra da criação.

 

- Jaci: é a deusa Lua da mitologia tupi-guarani. Filha de Tupã, ela é a protetora da reprodução e dos amantes.

 

- Ceuci: deusa protetora das casas indígenas e das plantações.

 

- Sumé: é a deusa das regras e leis dos índios. De acordo com os mitos, foi ela quem transmitiu os conhecimentos do cozimento da mandioca aos indígenas.

 

- Anhangá: espécie de deus do inferno e do mal.

 

Tupã: o deus criador dos índios tupis-guaranis

Tupã: o deus criador dos índios tupis-guaranis

 

 

Deuses de religiões de outros povos indígenas:

 

- Yorixiriamori: divindade Ianomâmi que possuía forma de pássaro. Nos mitos, aparece cantando para as mulheres indígenas.

 

- Akuanduba: divindidade dos indígenas da nação Arara. De acordo com um mito, ele era o responsável pela ordem no mundo, fato conseguido pelas músicas que tocava com sua flauta mágica.

 

- Wanadi: deus dos índios Iecunas. Ele é o pai dos seres que criaram o mundo.

 

- Yebá Beló: divindade feminina dos índios Dessanas. De acordo com a mitologia desse povo, ela é a criadora de todas as coisas do mundo.

 

- Aranãmi: deus dos Araweté. De acordo com o mito de criação, Aranãmi criou, com seu canto e som do chocalho, a terra, os rios, as ilhas, o subterrâneo e o céu.

 

 

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada 

 

- Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).  Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

- De acordo com dados do Censo 2010 (IBGE), o Brasil possuía, em 2010, 896.917 indígenas. Este número correspondia a 0,47% da população do Brasil.



Curiosidades:

 

- O filho de índio com negro é chamado cafuzo. Já o filho de índio com branco é chamado de mameluco.

 

- O ano de 2019 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional das línguas indígenas.



Índios brasileiros da etnia Kuikuro

Índios brasileiros da etnia Kuikuro. Fonte: Agência Brasil (autor: Valter Campanato).



Índígenas no Brasil atual

 

Atualmente, calcula-se que apenas 900 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.

 

 

OS ÍNDIOS ISOLADOS

 

Os índios isolados são aqueles cujas tribos não tiveram contato com outras culturas. Esses índios não receberam nenhum tipo de influência cultural dos homens brancos, ao contrário do que aconteceu com a maioria dos povos indígenas desde a chegada dos portugueses e espanhóis à América.

 

Os índios isolados vivem em suas terras de acordo com sua cultura original, utilizando-se de sua língua nativa. Eles não conhecem nenhum tipo de tecnologia ou objetos da sociedade brasileira. Os índios isolados também não possuem contato com outras tribos indígenas.

 

Em alguns momentos, estes índios já tiveram contato visual com homens brancos, porém nunca se aproximaram, pelo contrário, fugiram para defender suas terras e cultura. Quando homens de outra cultura chegam perto de suas terras, eles recuam, evitando o contato, e buscando novas áreas de habitação.

 

De acordo com dados da Funai (Fundação Nacional do Índio), existem tribos de índios isolados vivendo atualmente nos estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Maranhão e Mato Grosso. É a Funai que faz o trabalho de identificação e proteção destas tribos indígenas.

 

Pelo fato de viverem sem contato com a sociedade externa, pouco sabemos sobre sua língua, hábitos e cultura em geral.

 

Foto aérea de índios isolados da Amazônia
Índios isolados da Amazônia

 


Para que estes povos continuem vivendo desta forma, é de fundamental importância que haja a demarcação de suas terras, programas de proteção às tribos e preservação do meio ambiente (rios, florestas, fauna) onde vivem. Este trabalho tem sido feito nas últimas décadas pela Funai.

 


SAIBA MAIS:

 

- Veja mais imagens e informações sobre a cultura e arte dos povos indígenas brasileiro no website do Museu do Índio.

 

- Outra ótima fonte de informação sobre os índios brasileiros é o website da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).



TEXTO COMPLEMENTAR: A VIDA DOS ÍNDIGENAS BRASILEIROS

 

Os índios possuem uma maneira própria de organizar a vida. Entre eles tudo é dividido com o objetivo de fazer a aldeia funcionar em harmonia. A divisão de trabalho, por exemplo, segue basicamente critérios de idade, sexo e acumulo de conhecimento e cultura. Na grande maioria das aldeias indígenas brasileiras esta divisão funciona como podemos observar abaixo.

 

Funções e divisão do trabalho entre os índios brasileiros:

 

- Homem adulto: são responsáveis pela caça de animais selvagens. Devem garantir a proteção da aldeia e, se necessário, atuarem nas guerras. São os homens que também devem fabricar as ferramentas, instrumentos de caça e pesca e a casa (oca).

 

- Mulheres adultas: cabe às mulheres cuidarem dos filhos, fornecendo-lhes alimentação e os cuidados necessários. As mulheres também atuam na agricultura da aldeia, plantando e colhendo (mandioca, milho, feijão, arroz, etc). As mulheres também devem fabricar objetos de cerâmica (vasos, potes, pratos) e preparar os alimentos para o consumo. Devem ainda coletar os frutos, fabricar a farinha e tecer redes (artesanato).

 

- Crianças: os curumins da aldeia (meninos e meninas) também possuem determinadas funções. Suas brincadeiras são destinadas ao aprendizado prático das tarefas que deverão assumir quando adultos. Um menino, por exemplo, brinca de fabricar arco e flecha e caçar pequenos animais. Já as meninas brincam de fazer comida e cuidar de crianças, usando bonecas.

 

- Cacique: é o chefe político e administrativo da aldeia. Experiente, ele deve manter o bom funcionamento e a estrutura da aldeia.

 

- Pajé: possui grande conhecimento sobre a cultura e religião da tribo. Conhece muito bem o poder das ervas medicinas e atua como uma espécie de “médico” e “curandeiro” da aldeia. Mantém as tradições e repassa aos mais novos através da oralidade. Os rituais religiosos também são organizados pelo pajé.

 

Diversão dos índios

 

Além de trabalharem, os índios também se divertem. Nas aldeias, eles fazem festas, danças e jogos. Porém, estas formas de divertimento possuem significados religiosos e sociais. Dentre os jogos, por exemplo, destacam-se as lutas. Estas são realizadas como uma forma de treinamento para guerras e também para desenvolver a parte física dos índios.

 

 

QUIZ

 

Quem é o sacerdote das tribos indígenas brasileiras?

 






 

 



Última atualização: 07/03/2024

Autor: Professor Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).




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Bibliografia Indicada

 

Fontes usadas para a elaboração do texto:

 

Vainfas, Ronaldo (organizador) . Dicionário do Brasil colonial, Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.


Historia: volume único,  Ronaldo Vainfas, São Paulo: Saraiva, 2011.


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